sexta-feira, 7 de novembro de 2008

. Coisas da Noite .

É quarta-feira à noite, e estou em casa vendo um programa para casais na tv, e a primeira coisa que me veio na cabeça foi a briga que tive na segunda-feira com meu marido, o Ricardo. Mais uma vez ele chegou exausto do trabalho, e se irritando com qualquer coisa.
Ele me viu deitada no sofá, comendo pipoca e vendo filme. Fez o que faz todos os dias: reclamou. Falou dos funcionários da empresa, do chefe que é corno, do salário injusto que recebe, e ficou jogando piada pra mim, como se eu não pudesse ficar deitada na merda do sofá, comendo a droga da pipoca, e vendo a porcaria do filme, que por sinal já estava acabando e eu não entendia mais nada.
— Eu queria ter a sua vida: passar o dia vendo filme e engordando. E quando sente vontade, vai ao shopping e estoura meus cartões de crédito - disse ele, ao jogar o paletó na cadeira.
— É realmente muito bom ficar o dia inteiro em casa e estourar o limite do marido inútil que eu tenho, que só reclama e não presta pra mais nada.
— Quando foi pra te tirar da casa dos teus pais, eu servi, não é, desgraça?
— Você me tirou porque devia. Quem manda não saber fazer merda, idiota? Viu o quanto estou certa, quando digo que você é inútil? Não soube nem matar. Precisava deixar uma testemunha? - revidei.
— Sua vadia! Não repita isso nem sussurando! Se alguém ouve isso, eu tô ferrado! - gritou ele, jogando um copo em minha direção.
— Isso, me machuque. Vai, anda. Eu vou pro médico, e de lá vou na delegacia. Seu gay! O que eles fariam com você, ao descobrir que você matou o amante do seu namorado? Não seria boa coisa, não é?
— Você é uma piranha, mesmo! Só quer saber de dinheiro! Eu tinha que ter te matado também.
— Eu sei que você não teria coragem. Nem sei como teve pra matar o Oswaldo.
— Vadia! Piranha!
— Ui, querida. Assim eu choro. hahaha
— Você vai ter que parar de agir assim, ou eu...
— Ou você o que? - interrompi - Vai me bater, me matar? Você não é nada além de um velho gay, que não serve pra nada. Aposto que reclama do seu chefe porque ele tem uma mulher gostosona, e você é super afim de dormir com ele. Vai, assuma!
Depois de ouvir mais uma alfinetada, ele foi para o quarto. Parecia que tinha um plano idiota. Os olhos brilhavam como na noite em que ele saiu, e matou o Oswaldo. Será que era mesmo verdade? O que ele estaria planejando? O que pensou e sentiu quando falei da esposa do chefe dele? Oh, não, ele vai querer matá-la também! Pra que eu fui abrir a boca? Cacete!
— Aonde você vai? - perguntei, ao vê-lo sair com uma pequena bolsa preta.
— Não te interessa, piranha. E não me siga.
— Tá bom. Só não deixe testemunhas, dessa vez.
— Cala a boca!
— Ok, ok. Vai logo, antes que seu chefe chegue em casa, e vá se deitar com a mulher. Você não vai querer matar os dois, não é mesmo?
— Meu chefe? O que tem o Dinho?
— Como é? Agora é Dinho? Te enxerga, homem! O Rodrigo... Ouviu bem? Rodrigo é muito homem.
— Vá dormir. Ou continue vendo essa droga de filme, e engordando mais. Não se meta nos meus assuntos.
— Tá bom... Até logo, benzinho.
A última coisa que ouvi naquela noite foi o barulho do carro do Ricardo. Quando acordei, havia um carro de polícia batendo na porta da minha casa. Ele veio me dar a triste notícia que meu marido havia morrido.
— O que? Mas como? - perguntei, surpresa.
— Ele foi na casa do chefe, ontem à noite, e tentou matar a Cristina, esposa dele. Mas justamente nessa hora, o Dr. Rodrigo chegou em casa. Ele atirou um vaso decorativo na cabeça do seu esposo, e ele caiu no chão. A senhora sabia que ele tinha epilepsia? Ao cair, ele teve convulsões fortíssimas e não resistiu.
— Oh, que horror!
As palavras que eu disse perturbaram minha cabeça, e eu senti meu corpo pesado demais. Quando vi, estava numa ambulância.
— O que eu tô fazendo aqui? Me tirem daqui. Já! - gritei, desesperada.
— Victor, ela acordou!
— Mas é claro que acordei, seu imbecil! Vá, me tire daqui.
— Senhora, eu... não posso.
— Mas como não? Rápido, isso tá desconfortável pra caramba!
— Quando chegarmos no hospital, vamos tirar isso, ok?
E depois disso, o desgraçado do enfermeiro me deu calmante, e só acordei quando estava no hospital. Lá, então, é que me contaram o que aconteceu: eu desmaiei. Passou a noite, e na manhã seguinte fui ao enterro do Ricardo. Ele estava horrível, mas continuava com a mão virada e a sobrancelha feita. Inútil, não presta pra matar. Só sabe ser gay.

8 comentários:

JB disse...

Que texto forte hein, Rute!! Mto bom mesmo!

Débora disse...

O tão esperado conto.
Diferente do que de costumo é visto nesse canto tão cheio de aconchego.
Parabéns pela ousadia!


*_*

Annie Mucelini disse...

ta vendo televisao demais oO

123 disse...

Escreve novelas pra a Globo.

E...

Procure um terapêuta. =P

Cristiano Almeida disse...

Você não acha que está precisando de uns calmantes não? o.O

Na boa, o texto foi forte mas bem autêntico, muito bem feito. Ainda teria algo a melhorar mas chegou perto da perfeição. Apesar de estar imaginando os remédios que você deve estar precisando tomar, gostei do texto. =D

Beijo, prima.

Gabriel Lyra disse...

bom isso ai
quase um roteiro de filme
bjs

Anônimo disse...

Caraca! Mulher e eu pensei q era a unica doida solta nesse mundo escrevendo minhas loucuras kkkkkkk

GOSTEI, fia!

Anônimo disse...

Li novamente e sabe o que me lembrou? Os livros do Dostoievski.
Parabéns mais uma vez!